Lembranças de St. Pelagie, 1834.
Homem e criança sobre a ponte, 1845.
Banhistas, 1852.
Honoré Daumier foi um pintor do movimento realista. O realismo preconizava uma visão materialista e positivista do mundo, onde o artista deveria observar e analisar a natureza para compreender a realidade com precisão. Com forte influência das doutrinas de Marx e Comte, o realismo acreditava que apenas a ciência poderia explicar este mundo e que não haveria algo como a transcendência, ou seja, nenhum estado metafísico ou espiritual poderia ser admitido.
Apesar de compreenderem que a realidade está em contínuo processo de evolução – visão dialética de Hegel e que Marx repetiu – os realistas pareciam mais preocupados apenas com a dimensão social da realidade, já que numa visão determinista são a sociedade, a cultura e a economia que dizem o lugar e a essência do homem.
Contudo, é interessante como em todo movimento artístico sempre há aquele artista que parece sentir-se incomodado com os limites impostos pelas determinações conceituais do movimento que toma parte. No realismo, creio que Daumier é o artista que melhor expressa esse inconformismo.
Seus quadros trafegam com uma velocidade espantosa por diferentes tendências e parecem nos mostrar as novas abordagens estéticas que estariam por vir. Daumier inicia-se como realista, mas seus quadros vão mudando de direção de modo paulatino ou brusco: o real dá lugar a expressões de angústia e solidão, densidade e luminosidade extravagante. Notamos em Daumier alguns traços próprios dos expressionistas e da corrente pontilhista, bem como uma busca subterrânea pelo movimento da luz, assim como nos impressionistas.
Daumier é um daqueles artistas que não gostam de compor uma trajetória de uma nota só. Muito pelo contrário, sua obra está repleta de mudanças constantes e que lhe conferem uma das marcas essenciais que está presente num tipo especial de grande artista: a diversidade.
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