Hieróglifos.
Li I.
Turista VI.
H. R. Giger é um pintor, escultor e designer suíço. Giger ficou mundialmente conhecido quando ganhou o Oscar de efeito visual pelo design do monstro alienígena do filme Alien. Entretanto, é em sua pintura que reconhecemos as origens de sua arte visionária e apocalíptica. Timothy Leary dizia que Giger conseguiu enxergar mais longe do que nós, simples macacos adestrados.
Apesar de suas pinturas possuírem quase que exclusivamente um tratamento monocromático, Giger trafega de modo bastante inusitado e inovador pelo surrealismo e pela arte fantástica, compondo temas que insinuam uma realidade ora de pesadelo ora alienígena. Mas a concepção de uma forma para além de nosso planeta não indica meramente uma aproximação com a literatura fantástica, mas uma concepção artística da relação do homem com as máquinas e com a vida no cósmico.
Esta relação do homem com as máquinas é batizada pelo artista como realidade biomecânica. Em Giger, o homem só é pensado em sua totalidade quando relacionado com as máquinas, com as construções que permitem que a vida humana se manifeste como a conhecemos hoje.
Este elemento técnico e alienígena em suas pinturas não atravanca, entretanto, a manifestação de uma sexualidade exagerada e quase imoral. Giger sofria de terror noturno e suas experiências com o pesadelo – uma das esferas de manifestação de nossas estruturas mais inconscientes – permitiram que sua pintura ganhasse uma originalidade muito marcante.
Claro que sentimos com nitidez a influência de Francis Bacon e Salvador Dalí em suas composições, mas a junção com os elementos acima citados – máquinas e vida alienígena – permitem que seus quadros ganhem vida própria. Porém – e isso é sintomático em sua arte – Giger não permite que suas sobras adquiram uma característica extremamente distante de nosso tempo, de nossa humanidade e conflitos.
Giger compôs um Tarot de Baphometh onde é feita uma leitura mística e filosófica de suas ideias religiosas e morais. Não encontramos pistas fáceis, mas sim indícios que apontam o tempo todo para uma mente aberta ao novo que surge com veemência em sua arte.
Giger é, possivelmente, um dos artistas contemporâneos que mais se antagonizam com a moral vigente e com os dogmas religiosos. Sua obra não é de fácil digestão exatamente por impor ao interlocutor esta necessidade de ir além de seus códigos morais e religiosos. Só assim, então, a beleza oculta de suas pinturas poderá se revelar e ser apreciada de modo justo.
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