sábado, 31 de julho de 2010

Paul Klee

Senecio, 1922.

Monumento num país fértil, 1929.

Design in nature, 1947.


Paul Klee (1879-1940) foi um pintor suíço que trafegou pelo cubismo, expressionismo, futurismo, abstracionismo e primitivismo. Entretanto, sua obra possui um poder de evolução gradual que atinge uma maturidade artística e pessoal dentro deste processo de auto-reconhecimento. Klee não adere totalmente ao abstracionismo de Kadinsky que renega a figura. Ao contrário, a forma, o figurativismo é uma marca importante do seu trabalho que alcança uma inventividade única dentro do cenário mundial da pintura.

Sendo um grande desenhista, não é de se estranhar sua paixão pelas formas. Porém, em outro sentido, diferentemente dos impressionistas que queriam demonstrar o movimento da luz, sua fugacidade e impermanência, muitas vezes vemos um Klee preocupado em dominar e aprisionar a luz em seus quadros. A forma, então, surge como a base deste processo de reter e enclausurar a luz.

Sua pintura recende aos seus mais diversos métodos e suas técnicas sempre inovadoras. Cada vez mais a pintura se mostra também através de seu processo de composição. Klee lançava mão das mais variadas possibilidades. Primeiro, os materiais: tinta a óleo, tinta preta, aquarela, rascunhos, verniz, papéis de parede, jornais, etc. Segundo, as técnicas: uso de spray, recortes de faca, mistura de tinta a óleo com aquarela e tinta indiana, etc.

Seus quadros possuem uma gama de cores tão diversificadas que pululam do mais simples quadro monocromático a uma profusão quase confusa de cores. Além do mais, as diversas influências do artista se encontravam nos momentos menos esperados, causando uma combinação extremamente inovadora, capaz de causar reconhecimento e estranheza ao mesmo tempo.

Riqueza de estilos, uma assombrosa modernidade, um gosto refinado e bem elaborado são algumas das grandes virtudes de Klee. Um pintor que, para ter sua obra conquistada, necessita de um despojamento sincero de seu interlocutor. Parafraseando Eggonópoulos: para poucos.



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domingo, 25 de julho de 2010

Di Cavalcanti

Onde eu estaria feliz, 1965.

Mulata, s/d.

Samba, 1928.

Os pensadores brasileiros sempre seguiram a ideia européia de buscar a essência das coisas. Isto fica mais evidente quando o assunto é definir a essência de ser brasileiro. Grandes pensadores como Gilberto Freyre, Darci Ribeiro e Sérgio Buarque de Holanda tentaram explicar a formação de nossa essencialidade, seja através do nosso processo de colonização, da influência dos negros em nossa cultura, das nossas origens indígenas ou das contribuições dos imigrantes. Todos tentaram elaborar uma resposta fechada para uma questão sempre aberta: o que é, de fato, ser brasileiro?

Creio que os artistas foram mais felizes do que os acadêmicos. O movimento conhecido como A Semana de Arte de 1922 foi uma resposta a tal questionamento. Os artistas da semana estavam interessados não apenas em desenvolver uma linguagem artística brasileira – com influências estrangeiras, é claro – mas também em alcançar essa essência. E chegaram a um ponto em comum: a diversidade. Ser brasileiro é, antes de tudo, estar inserido na possibilidade de ser diverso, seja em termos étnicos, culturais, sociais ou religiosos. Somos o povo da diversidade onde as diversas raças se encontram e se misturam, onde as diversas expressões culturais se encontram, se chocam, se antagonizam e se fundem.

Di Cavalcanti participou da Semana de 1922 com 12 obras, além de elaborar a capa do catálogo da exposição. Di Cavalcanti estava ciente de nossa diversidade e seus quadros revelam essa abordagem. Apesar de influenciado estilisticamente pelo cubismo, expressionismo e pelo muralismo mexicano (principalmente Diego Rivera), Di Cavalcanti alcançou uma voz muito sua, personalíssima, elaborando temas tipicamente brasileiros como as gafieiras, as rodas de samba, as mulatas, as ruas das favelas do Rio de Janeiro, a sensualidade típica de nossas mulheres, as festas populares e as nossas praias. Mas também possui um olhar sobre as questões sociais de nosso país, retratando operários, a vida nas favelas e os protestos sociais.

Di Cavalcanti adotou a linguagem das vanguardas européias como meio de atingir sua própria voz, adotando uma temática nacionalista e uma preocupação com as questões sociais de seu tempo. Além do mais, as cores escolhidas acentuam essa busca por um dizer artístico exclusivamente brasileiro.

As obras de Di Cavalcanti transpiram essa diversidade essencialmente brasileira. Cores profusas, fortes e alegres, mulatas, violeiros, pescadores, dançarinos compõem essa viagem sobre nós mesmos e, mais uma vez, aponta para nossa essência: a diversidade.



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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Pablo Picasso

Primeira comunhão, 1895-6.

A bebedora de absinto, 1901.

A tragédia, 1903.

Pablo Picasso (1881-1973) é um pintor de diversas fases, diversas escolas e diversos interesses. Ele sai do realismo, passa pelo expressionismo e cubismo até atingir a pintura naïf. Ele costumava dizer que pintava como um velho quando era criança, e como criança quando era velho.

Particularmente, não me interessa a fase cubista de Picasso (apesar do caráter mitológico que muitas vezes a invade) e nem tampouco as suas pinturas que mais parecem coisas de criança. O que me atrai na pintura de Picasso são suas fases rosa e azul. Principalmente a fase azul.

Na fase azul descobrimos um Picasso introspectivo. A densidade que ele atinge usando o azul é uma coisa impressionante. A melancolia perpassa de cima a baixo suas composições que nos trazem este antagonismo intrigante: a leveza e solidão da melancolia em contraste com o sofrimento e desolação que ela produz.

Picasso era um artista muito ciente de sua arte e do alcance de suas idéias. A solidão que sempre o acompanhou como artista – com a rara exceção de Paul Cézanne – o ajudou a elaborar este mundo particular que povoa seus quadros.

Na fase rosa encontramos um Picasso totalmente diferente. Arlequins, palhaços, acrobatas e dançarinos - que compõem um mundo circense – possuem o poder de demonstrar a transição do artista. Não é mais a melancolia que rege a composição, mas sim o distanciamento de pessoas que aparentemente deveriam estar juntas.

A busca constante de Picasso pela ingenuidade da infância se faz presente nesta fase, mas de um modo que ele mesmo reconhecia ser diametralmente oposto à ingenuidade da infância. Como todo grande artista, Picasso possui coisas que gostamos e outras não. Seja como for, o seu gênio maior reside numa produção constante, ardente, diversificada e inovadora.




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sábado, 10 de julho de 2010

Piet Mondrian

Vista de Winterswijk, 1988-9.

Noite de verão, 1906.

Composição, 1921.

Piet Mondrian (1872-1944) foi um pintor modernista holandês. Mondrian é um exemplo muito claro de um pintor que trafega do naturalismo para conquistas pessoais na pintura. O impressionismo e o pós-impresionismo, assim como a fase inicial do cubismo de Braque e Picasso, o influenciariam, mas não permitiriam, ao mesmo tempo, que ele atingisse sua voz própria.

É conhecido o envolvimento de Mondrian com a teosofia de Blavatsky e a carga simbolista que este encontro gerou em sua pintura. Entretanto, o mais importante deste encontro para sua pintura foi a capacidade de abstração que Mondrian adquiriu. É nesta fase de ruptura que o pintor envereda pelo neoplasticismo, movimento que busca atingir a limpeza total da pintura, buscando aquilo que é essencial.

O neoplasticismo advogava em favor do aspecto artificial da arte, ou seja, ela é, antes de tudo, uma produção humana. Daí, na pintura, o uso exagerado das cores primárias e do branco e do preto, ausentes na Natureza, já que são, respectivamente, presença total e ausência total de luz.

A revista De Stijl era o arauto da filosofia neoplástica que combinava elementos de religião (a teosofia) e concepções da pintura (o cubismo, por exemplo). Para Mondrian, a arte não figurativa deveria fornecer as pistas de uma evolução espiritual, já que aqui teríamos estruturas universais que iriam além do Id freudiano – aproximando-se dos ceonceitos de episteme em Foucoult e estruturas inconscientes em Lévi-Straus.

Por fim, vale ressaltar que Mondrian, na sua fase madura, acentua a imobilidade. Nenhum outro pintor conseguiu retratar de modo tão convincente a inércia, polaridade natural do movimento. Esta inércia, de fato, traduz a busca de Mondrian pela coisa em si (Das Ding an sich) de Schopenhauer e Kant. Diferentemente dos filósofos citados, Mondrian acreditava que a coisa em si era alcançável através de um processo de purificação, atingindo, na pintura, a mais perfeita harmonia e equilíbrio.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Edward Hopper

Luz a duas luzes, 1927.

Gasolina, 1940.

Nighthawks, 1942.

O impressionismo – que teve como principais representantes Monet, Manet, Degas e Renoir - surge a partir do quadro Impressão – Nascer do Sol de Monet. Ali, a pintura compreende o poder da luz, isolando-o do todo da composição e transformando-o no atributo essencial de suas composições. A impressão que o real causa no observador é impermanente, já que a luz é variação temporal, mudança e movimento perpétuo.

Esta concepção da impressão é clara no início do primeiro tomo de Em Busca do Tempo Perdido de Proust e aparece também nas composições de Debussy e Ravel com seus tons inteiros e ambientações capazes de provocar no ouvinte esta ideia de impermanência que a realidade causa em nós.

Diferentemente de Paul Klee – que buscava imobilizar a luz em seus quadros – Hopper se utiliza da luz não como tema principal, já que estamos falando de um pintor realista, mas sim como um dos pontos de apoio mais fortes para compor seu mundo artístico, criando movimento e imobilidade a um só tempo.

Em Hopper, a luz trabalha a favor da composição das paisagens ou construções, das pessoas e das linhas mestras do tema escolhido; não como o agente principal, mas como coadjuvante. A luz, em Hopper, delimita esse espaço imaginário que nos permite visualizar a mudança em si e estabelecer cenários, conceitos e a própria realidade.

Entretanto, além deste ponto, a luz aqui nos fornece as características mais marcantes da aproximação que Hopper faz com suas abordagens sobre a solitude, a solidão do viajante, a quietude da natureza, a harmonia do homem com seu ambiente – seja ele um escritório, um bar ou um descampado – declarando abertamente seu amor pela vida tanto nas coisas simples quanto em paisagens magníficas.

Hopper afirmava que há um limite que a linguagem atinge, mas em que ainda reside algo para ser dito. É aí, segundo ele, que entra a pintura: dizer aquilo que as palavras não conseguem expressar. De fato, assim creio, Hopper poderia ser traduzido como um poeta das cores e das formas, já que há um cenário sobre o qual é montado um enredo ou sobre o qual uma forte impressão de profundidade do real emerge a todo tempo.

A escolha por pintar hotéis, escritórios, bares, motéis e estradas – locais públicos onde as pessoas se encontram – não impede que suas telas reverberem a mais ampla quietude que a solidão do homem traz sempre consigo. Público e privado, movimento e imobilidade, luz e escuridão convivem lado a lado e nos brindam com a própria essência daquilo que é.