sexta-feira, 11 de junho de 2010

Caspar David Friedrich

Mulher na janela, 1822.

A entrada do cemitério, 1825.

Navio naufragado à luz da lua, 1835.

Caspar David Friedrich é um dos meus pintores favoritos. Este mestre do movimento romântico alemão possui um talento alegórico e simbólico impressionante. Suas telas estão recheadas de silhuetas que surgem diante de um céu denso à noite, em meio à névoa que se espraia sobre a terra com seu poder de tornar sagradas todas as coisas ou entre árvores retorcidas que nos conduzem a um sentimento forte de desolação ou mares revoltos e construções góticas belíssimas.

Há, neste pintor, uma busca constante pela experiência espiritual que a vida pode nos oferecer. As silhuetas nos falam de pessoas introspectivas, abandonadas em si mesmas e em contemplação profunda – uma contemplação sobre o mundo que as cerca e sobre suas próprias vidas. Entretanto, esta busca não esconde um forte lastro de melancolia que paira no todo da composição. A densidade das cores, atreladas a uma pincelada tão fina e extremamente técnica, nos fornece mais pistas para tentarmos entender este gênio.

É estranho escutarmos alguns críticos chamarem sua obra de anacrônica. Parece-me que tudo hoje que não seja uma instalação ou pintura abstrata ou conceitual é anacrônico. O velho Nikolai Seroff, se vivo, poderia dizer que suas mais sombrias expectativas sobre a arte haviam se confirmado neste novo século. Como é possível alcunhar de anacrônico este espírito imorredouro que nos habita e a tudo quer abraçar? Como dizer que esta ânsia por nossa grandiosidade é anacrônica? E pior de tudo, é anacrônico este sentimento atávico de comunhão com todas as coisas, mas que esconde em seu fundamento uma angústia indizível? Creio que não.

Este poder de contemplação que Caspar David Friedrich possui sobre a grandiosidade espiritual do homem – entendida aqui no seu sentido estritamente filosófico – e a angústia que a acompanha sempre permite vislumbrarmos esta atemporalidade filosófica que busca entender o homem e que surge também no movimento Expressionista. Trata-se de uma visão da existência no que ela possui de mais aterrador, belo, misterioso e profundo. A vida nunca será anacrônica.

Para conhecer um pouco mais de suas obras – já que este pintor não aparece no site da ABC Gallery – o link é:
http://www.caspardavidfriedrich.org/

Um comentário:

  1. Descobri recentemente o grande pintor. Ao ser citado em uma palestra, fiquei curioso com o quadro "Caminhante..." e fui buscar informações. O seu texto acima, as suas observações são exatas e engrandecem a minha busca. Parabéns.

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